terça-feira, 29 de setembro de 2009

Marquise

A senhora bate, bate
Incomoda
Canto angustiante
Murmúrio de barriga oca

Quando céu reflete asfalto
O frio racha o osso
Papel de letra cobre o corpo
Em leito ruim de pedra dura

Gotas barradas
Teto sem parede
A privacidade veste vidro
E o imundo inventa o lar

Criança sincera
Passa, para, pensa
Veja só, mamãe. Coitada.
A tristeza é quase gente

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sim

“E você, ________, aceita ________ como seu legítimo esposo?”

“Sim.” (No meio da sentença, um pigarro.)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Blazé Circular

Hoje é o dia. São sei lá que horas da manhã e o céu ta azul, esse azul julho quase agosto. Eu bem que poderia tirar a embalagem de pizza que jaz ali, enformigada, sobre a pilha de classificados velhos. Ou limpar a caixa de areia do gato. Coitado do gato... Quer enterrar as fezes. Mas não pode.

Hoje é o dia. Talvez eu não beba essa noite. Nem esta tarde. Amanhã quero acordar e provar para mim mesmo o quanto que é bom estar sem ressaca. O difícil é que sóbrio eu não me convenço de nada. Já bêbado, como dizia minha ex-mulher, eu fico cheio da razão. Tem leite na geladeira?

Sabe que eu não acredito muito nessa história de esforço? Pois é, não acredito. Não no meu, no dos outros pode até ser. Tudo que eu consegui na minha vida foi fruto do caos. Nunca consegui desenvolver essa coisa da disciplina. Há! Tão aí duas outras coisas em que eu também não acredito: desenvolvimento e disciplina. Eu acredito é na vida. Se o Brasil fosse desenvolvido, talvez existisse por essas bandas aquele seguro que paga melhor que o salário. Se eu fosse disciplinado, talvez não tivesse sido demitido. Mas eu to aqui. Vivo. Não é? Então. Eu acredito é na vida, compadre. E quem é que ta se matando por aí? Os escandinavos e os Japoneses. Dois povinhos desenvolvidos e disciplinados pra cacete... Viva a vida, viva o caos.

Essa casa ta um caos. Não consigo mais viver aqui. Porra! Nem leite tem... Ressaca do cão. Falando em cão, cadê o gato? Olha ali a tv. De manhã tem desenho. Às vezes fico feliz quando vejo o Tom e Jerry. Verdade. Dura quase um soluço... Acabou a pilha. Tenho trocado muito de canais ultimamente. Que cheiro é esse? Sou eu, claro. Tenho me trocado pouco ultimamente. Que dia é hoje?

Têm esse boicote... Meu estômago ta cansado de ser sabotado pelo determinismo geográfico. É. Em Brasília tem rua só de farmácia. Trinta e cinco delas, uma ao lado da outra. Rua só de loja de lâmpada... Ou de aluguel de roupas. Mas não tem a rua das padarias. Diabo. Não tem uma única padaria na comercial ao lado. Nem na de cima. Eu queria morar na rua das padarias se tivesse uma. Ou na rua dos empregos. Na da umidade...

Hoje é o dia. Ainda tenho cigarros. Vou fumar um café da manhã. Nossa... É o fim da picada: um sujeito que guarda esse tanto de fósforos riscados dentro da caixa só pode ser mau caráter. Nunca consegui terminar um isqueiro. Tenho perdido coisas. Mais que o normal. Fogo, emprego, peso... Que fome. Se o homem é o que come, eu também perdi minha identidade. Minha filha esqueceu meu nome. Minha ex-mulher disse que eu nunca consigo terminar nada. Só com o casamento. Minha ex-mulher... Vaca. Bem que podia ter leite nessa geladeira. Seca do caralho...

O bar é aqui do lado. Determinismo geográfico outra vez. Ta bom. Não vou beber... O dono do bar lembra o meu nome. Vou tirar fotocópias dos meus documentos e... É. Perdi minha identidade. Aliás... É hoje mesmo? Não! É ontem. Quer dizer, foi ontem... Merda! Perdi a entrevista... Determinismo cronológico. Minha ex-mulher mente quando diz que não sou um homem determinado. Ah, quer saber... Hoje eu vou beber sim. Oi, gato! Apareceu? Quer ver Tom e Jerry?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

No hay nada, putinha cruel.

De que adianta ensinar às bonecas
A tão correta forma de se espremer os cravos
Se
No meio do passeio
Um motim dissolve a cor que
Acintosamente
Elegemos para nosso equívoco?

Buscam potência, os moinhos...
Embaraçam-nos, pois
Em parva publicidade
Berram nanismo aos quatro ventos

De que adianta fitar os buracos
Na venal compulsão pelo medo do estéril
Se
Por trás de muitos olhos
Um sonido abafa a dor que
Criativamente
Goza com a uberdade da solidão?

(De repente, uma súbita mudança no estilo... Amém.)

Não tem, porra
No fundo daquele par de indecências
Restolho de qualquer verdade
Só vazio

Fim desse caralho

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Brado do Viking Psicótico

Oh, como eu queria
Hidromel com hemorragia
Javali assado, comida boa
Um brinde no crânio das pessoa

Ser pagão, não ir pro céu
Adorar metal finlandês
Grudar um corno naquele chapéu
E enforcar europeu pré-burguês

Caçá-la
Currá-la
Maravilha

Matá-la
Vahala
Valkíria