sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Michael Caput Orbi Est

Primeiro de novembro de dois mil e nove: morre o Michael Jackson da antropologia. “Mkawa ypxu ptuá açu hawirí”, diriam os silvícolas do Mato Grosso – ou quem sabe nem isso. Cruzou os mares e se arredou em Sampa – a Goiânia mais grande do Brasil –, na incipiente cUSPe dos anos trinta. Pai de um método etnográfico tão gonzo quanto meu dicionário Tupi/Macro-Gê, provou por A mais B estarem nos critérios de fornicação a verdadeira origem das sociedades; Quanto ao carnaval, deixou DaMatta no chinelo ao publicar “Do Mé às Cinzas”; Transformou a palavra “estrutura” num pesadelo capaz de arrepiar os cabelos do cu do mais sábio e capacitado dos engenheiros; Fez-se pioneiro de uma nova e inusitada ciência, a geo-odontologia – saber esse que teve como primeiro objeto, Caetano sabe muito bem, a Baia da Guanabara. Em fim, das valsas aos jeans, Lévi-Strauss foi realmente um monstro.

Porém, até o mais fofo dos ursinhos carinhosos possui um lado podre. Claude carregava nas costas dois processos por plágio. Um deles era relacionado ao título “Tristes Trópicos”: Felisberto de Albuquerque Moura Neto, poeta parnasiano modernista de origem portuguesa, autor de “Bebo, bebo, bebo, cago água e continuo bebendo” e “A Tevê Tupi dominará o Brasil”, havia lançado uma obra homônima dois meses antes da edição francesa. O outro, movido por Antônio Bento da Silva, mateiro e ex-assistente de Roberto Cardoso de Oliveira no encontro com os Tükúna, acusava o antropólogo Belga de ter copiado descaradamente do nunca concluído “Os índios também pensam” inúmeras idéias que compuseram “La pensée sauvage”. Em ambos os casos, todos os envolvidos – com exceção do processado, obviamente – foram pegos pela senilidade ou morreram por causas naturais, incluindo o juiz, as testemunhas, advogados e por aí vai. Tendo sido os arquivos devorados pelas traças, tudo que resta é história oral, deturpada como todo telefone sem fio, mas nem por isso pouco crível.

Um outro aspecto ainda não revelado de nosso ilustre pensador é o seu talento na cama. E também na esteira, e nas redes, no alto das bananeiras... A filha do cronista e colecionador de narrativas amorosas inter-étnicas Clóvis Santarém, aposentado do extinto SPI, guardou do pai valiosos escritos que, conforme o prometido, somente deveriam vir ao conhecimento público após a morte de L. Strauss. “Não é o tamanho da regra, mas a relação que ela proporciona” afirma ter aprendido com o viril etnólogo a índia K’ru Kutca (“Anta Cansada” na língua Bororo), amante dileta do vovô Lévi(ano) – terá sido criança algum dia esse senhor de cabelos brancos? Creio que alguns nomes são próprios para quem já nasceu velho. Segundo conta, deu a luz à nove curumins caboclos lindíssimos, entretanto, em razão de certas hereditariedades – como a miopia e o gosto pela interpretação dos mitos –, nenhum deles muito aptos ao arco ou às pajelanças. Em posterior visita ao Brasil, o pai, temendo o suicídio anômico de sua prole, convenceu os filhos, que, após se mudarem para a França, abriram em sociedade familiar a Tucandeira Chocolatiers.

A simpatia era uma de suas maiores marcas, diziam. Sei, sei... Eu, pessoalmente, confesso que mal posso esperar pela publicação de seus diários secretos, cadernos de campo como aqueles do Bronislaw, repletos de apontamentos sinceros em demasia: “Nambikwara fedida do caralho”, “Selvagens truculentos, só comem mandioca” etc, etc. Mas de que importa? Se o cara é O cara, prestemos as homenagens! Assim como ele, já se vai o Niemeyer, o Michael Jackson da arquitetura, e já se foi o Michael Jackson, o Michael Jackson do universo – esse sim um gênio, injustamente levado sem o direito de cumprir cem anos. Quer dizer então que estamos a limpar os armários para que, aos poucos, cheguem os gênios do séc. XXI? Que estes sejam prósperos e criativos, sobretudo ambiciosos, que batam os recordes da Antropologia estrutural 1, 2, 3, 215, 743. Que vençam em audácia a sede do partido comunista francês, o congresso nacional, a catedral... E só. Porque thriller, todos sabem, é insuperável.

4 comentários:

  1. Fica pra depois a saga que narra o fatídico encontro de L.Strauss com Dercy Gonçalves. Um dos plágios que esquesci de postar...

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  2. haauahaha
    Estou louca para lê-los!

    (* estrelinha para essa crônica)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. nota1: amei esse tal de Felisberto de Albuquerque Moura Neto...poeta português...
    hahaahuhauuuu
    têm mais coisa dele por esses escombros?
    nota2: é típico e pernóstico da sua parte enfiar antropologia estruturalista(sinceramente preferimos os funcionalistas - Dudu - kheim - ou kent - ) Temos que participar!!!
    Entrar com pau dentro!
    nota3: ignore minhas revelações fenomenopseudoincuturalistas

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