quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Easy, baby.

Olha, neném
Eu te amo

Amo

A sua luta
O seu pileque
O seu jeito de contar anedotas

Porra, eu amo o cocô do seu cachorro

É o teu cabelo, o teu balanço
Teu cheiro de avelã

E o seu cu enorme, lar de tantos demônios

Eu te quero, Bárbara
Com todos os delírios e neuroses da sua meia idade
Com o seu filho pré-adolecente, com a sua tia que tem bafo

Rainha
Única
Primeira
Última

Eu te juro
Eu te explico
Eu te peço

É só isso que eu te peço, Bárbara
Por favor:

Solta essa faca, meu amor.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Solange

Ó pra lá, Santos. A sapeca da meia-noite chacinando meio mundo cum sorrisinho de canto. Ali, ou. Tá que me olha com o rabo, chamando a catástrofe pra morar dentro dela. Posso não, Deus. Tem como um desatino desses? Naquele copo não é uísque: tem baba de touro, tem sêmen de lobo. As cabeças todas feito um cardume, pra lá e pra cá seguindo o quadril dela. Faço o quê? Ave... Queria era morrer.

Debaixo do vestido tem uma arapuca quente, Santos. Ali você sabe, é um labirinto sem volta. Já pensou? Eu vou é escrever uma ópera pro umbigo dela, Santos. E vai ser em húngaro, que é a língua do Diabo. Se eu for e ela me der sumiço, dá um jeito de arrumar ajuda. Não, faz assim: chama o vigário e manda rezar o que tiver de rezar.

E pior que não é só maldade, Santos. Essa menina é toda jeito, costura gota em flor. Viu ela mandando o outro um embora? Não careceu nem de ficar bravo: o não dela é de seda. Se eu for, aposto que ela diz sim. Ela piscou, homem de Deus. Pode até ter sido um cisco da purpurina, mas ela... Purpurina não sai do pau, Santos, gruda que é um horror. Eu vou, olha que eu vou. Porra, Santos, ela vai entrar no carro do... Diacho! Foi.

Tem problema não. Semana que vem eu volto aqui no baile. Nem que seja pra gastar o ordenado todinho. Tão linda, Santos... E eu nem ligo dela ser homem.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mais, ainda

Um homem numa cadeira de plástico
Fuma cigarros, porém só até a metade.
Quem inventou isso de conhaque no vermute?
Estava de fato aposentado. Mundo:
Não lhe contava mais segredo algum.

Vez ou outra se tocava do quão insosso é persistir
Mas ele não podia fazer nenhuma besteira, não por enquanto.
"Antes disso", ele pensava:
“Preciso dormir com mais duas mulheres.”
“Ou três.”

Não se sabe ao certo o nome do homem.
Que tal Paulo?
Num desses domingos ordinários, percebeu
S u b i t a m e n t e
Que não amava mais sua esposa.
Ao revelar a descoberta para Lourdes (em tempo real)
Cometeu um erro.
Um erro gravíssimo.

Paulo sozinho: pouco mais que noventa e seis quilos
Todos eles prostrados numa cadeira
Uma cadeira amarela, de plástico.

Mesmo jogados, pisados no chão
Os cigarros pela metade não podem ser chamados de guimbas:
Aquilo que não é bituca possui ainda um préstimo.

Cigarros pela metade formam um rastro
Bem menos angustiante, é verdade.
No sentido de que os filtros,
(infumáveis)
Sucumbem numa canção de finitude avassaladora.